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NÚCLEO DE ESTUDOS, PESQUISA, EXTENSÃO E ASSISTÊNCIA À PESSOA TRANS PROFESSOR ROBERTO FARINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (NÚCLEO TRANSUNIFESP)

O  Núcleo de Estudos, Pesquisa, Extensão e Assistência à Pessoa Trans Professor Roberto Farina da Universidade Federal de São Paulo, conhecido como Núcleo TransUnifesp (NTU), nasceu de uma iniciativa multicampi, supradepartamental, e ligada à PROEC, constituída por um conjunto de atividades multiprofissionais de estudo e produção do conhecimento, acolhimento, promoção de saúde e cidadania da população Trans e Intersexo, e que homenageia o Prof. Roberto Farina da nossa instituição, cirurgião plástico visionário e pioneiro no cuidado cirúrgico a pessoas trans no Brasil, tendo realizado a primeira cirurgia genital em nosso país em 1971, em Waldirene Nogueira. A história de Waldirene contada na matéria da BBC pode ser acessada clicando aqui.

O Núcleo TransUnifesp está em constante construção e se reinventando frente aos desafios da realidade vivida. Nessa perspectiva, aqui relembramos nossa trajetória.

As primeiras reuniões com profissionais da Unifesp que tinham interesse em colaborar com a criação do NTU começaram em agosto de 2015. A cada mês, essas reuniões recebiam mais e mais pessoas interessadas em estudar, aprender e discutir o tema das transgeneridades, de dentro e fora da Unifesp, incluindo discentes, a comunidade LGBTQIA+ e movimentos sociais.

Docentes e TAEs, assim como pesquisadoras(es) da Unifesp, oriundas(os) de diferentes departamentos, escolas e institutos, tornaram-se membros colaboradores do NTU, e estão presentes desde as primeiras reuniões de formação. Esse grupo cresceu e passou a articular com o Gabinete da Reitoria para a publicação da Portaria Reitoria nº 2071 de 13 de julho de 2016, designando um grupo de pessoas servidoras da Unifesp para compor uma Comissão para a elaboração de projeto visando a criação do Núcleo, na época intitulado, “Centro de Atenção à Pessoa Trans na Unifesp”. De lá para cá, muitas conquistas se efetivaram e o projeto inicial se expandiu e tomou outras formas.

Além de proporcionar o encontro entre pares, o NTU disponibiliza informações e discussões pertinentes à temática LGBTQIA+ e aproxima a academia/profissionais de saúde e áreas afins com a comunidade, em especial as pessoas trans, respeitando o lema “nada sobre nós sem nós”, possibilitando assim um diálogo aberto e empático entre as partes, e foram abrindo espaço para as reuniões mensais abertas ao público, de forma mais ampliada, que acontecem até hoje.

Portanto, o Núcleo TransUnifesp (NTU) tem promovido reuniões mensais abertas ao público desde 2016, que inclui, mas não se restringe à toda comunidade acadêmica, movimentos sociais, profissionais de áreas correlatas, sociedade civil, especialmente a população trans tanto da Unifesp quanto a de fora. Nas reuniões mensais são apresentados e discutidos conteúdos de questões eminentemente coletivas, dentro de uma visão científica, informativa e de troca de ideias com a comunidade trans, sobretudo quanto aos projetos colaborativos e de intervenção social. Nossos temas são abertos a sugestões das pessoas participantes e interessadas nas reuniões, que em 2020, ocorrem na primeira terça-feira do mês, das 12:00 às 14:00.

A criação e ampliação do NTU só foi possível graças ao interesse de profissionais de dentro e fora da Unifesp, às parcerias com os movimentos sociais, com outros serviços de atenção à população trans, especialmente nossa formação (profissional) de equipe em parceria com o Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP (ASITT/CRT), criado em 2009, e que nos apadrinhou.

Assistência

Ambulatório do Núcleo TransUnifesp é a parte que trabalha na assistência em saúde prestada à comunidade Trans usuária do Sistema Único de Saúde (SUS), e foi inaugurado em 24 de março de 2017, em evento marcante, realizado no Anfiteatro Leitão da Cunha no Campus São Paulo. O NTU recebeu esse nome in memoriam ao professor Roberto Farina, cirurgião plástico da EPM/Unifesp e pioneiro na cirurgia urogenital para pessoas trans no Brasil. Esse evento foi garantido pela participação de discentes trans da Unifesp, apoio do Gabinete da Reitoria, EPM, EPE, Diretoria do Campus São Paulo, Hospital São Paulo, Gerência de Hospitalidades, PRAE, PROEC e PROGRAD além dos parceiros externos como ANTRA, IBRAT, ABGLT, Santa Casa, FMUSP, AMAPÔ, Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo (ASITT/CRT Santa Cruz) e Comitê da Diversidade da Secretaria Estadual de Saúde.

O atendimento à população trans no ambulatório do NTU foi criado e desenvolvido em parceria com a comunidade trans, garantindo-se um atendimento acolhedor, de cuidado singularizado e de constante busca por melhores práticas de assistência e saúde. O ambulatório NTU presta serviço SUS e conta com equipe multi e transdisciplinar para cuidados em saúde integral sob a perspectiva não patologizante da condição trans, inclusiva e de corresponsabilidade da pessoa atendida, a partir das suas demandas, necessidades e desejos, respeitando suas condições de saúde e os limites do serviço.

Sob a coordenação do Prof. Dr. Magnus R. Dias da Silva e da Profa. Dra. Denise Leite Vieira, conta atualmente com profissionais das áreas da cirurgia plástica (2; sendo 1 profissional e 1 residente); endocrinologia (4; sendo 1 docente, 2 profissionais e 1 residente); enfermagem (2); fonoaudiologia (2; sendo 1 docente e 1 profissional), ginecologia (3; sendo 2 docentes e 1 residente); psicologia (6; sendo 2 profissionais, 2 bolsistas de extensão e 2 estagiários Unifesp), psiquiatria (2); assistência social (1); terapia ocupacional (1) e urologia (1). Atualmente, contamos também com três recepcionistas do Ambulatório de Medicina Geral e Familiar (AMGF), local cedido ao ambulatório do Núcleo TransUnifesp, para atendimentos às 3as feiras das 13:00 às 17:00, e subsequentes reuniões de equipe das 17:00 às 19:00.

O ambulatório do Núcleo TransUnifesp, até o momento, atende apenas pessoas maiores de 18 anos de idade. Para a comunidade trans de fora da Unifesp, os atendimentos são oferecidos apenas através de encaminhamento por outro serviço público de saúde via Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS).

A sustentabilidade do ambulatório do NTU está garantida pelo SUS via Hospital São Paulo/Hospital Universitário (HSP/HU) da Unifesp. Ainda que a equipe assistencial seja majoritariamente composta por profissionais voluntárias(os), contamos com residentes de medicina em estágio fixo no ambulatório. O apoio institucional dado pela Reitoria, ProEC, Campos São Paulo, EPM e EPE, com docentes e TAEs preceptores(as) de vários departamentos, tem sido fundamental para o crescimento do ambulatório, totalizando mais de 1000 atendimentos no último ano.

Estudos e Pesquisa

Além do ambulatório, integram o Núcleo TransUnifesp outras frentes de atuação como a formação e treinamento de estudantes e profissionais, que contempla uma disciplina eletiva intitulada “Sexualidade e Saúde Sexual” para os cursos de graduação do campus São Paulo; (Ciências Biológicas Modalidade Médica, Fonoaudiologia, Medicina, Tecnologia Oftálmica, Tecnologia em Informática em Saúde, Tecnologia em Radiologia, e Enfermagem do Campus São Paulo); cursos de extensão, aperfeiçoamento e especialização; preceptoria de residência de áreas da medicina como endocrinologia, ginecologia, psiquiatra e medicina da família e comunidade do campus São Paulo; de estágio da Psicologia de discentes do campus Baixada Santista (2019 e 2020); e como Diálogos, que são breves treinamentos para outros departamentos da Unifesp, Hospital São Paulo e profissionais que queiram atuar no ambulatório.

Estamos atuando para abrir uma Liga Acadêmica LGBTQIA+, com enfoque na população trans como campo de prática para a residência médica e multiprofissional em saúde, especialmente nas áreas da Endocrinologia, Ginecologia, Medicina de Família e Comunidade, Psiquiatria e Urologia.

No âmbito da pós-graduação e pesquisa, alguns estudos já foram realizados sobre a temática trans por pessoas colaboradoras do NTU. Dentre eles, dois artigos já foram publicados: a pesquisa desenvolvida por Matheus Ghossain Barbosa, residente em psiquiatria, que recebeu financiamento do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, CREMESP, intitulada “A População transgênero sob o olhar da bioética de proteção: um panorama dos currículos de graduação e dos cursos de bioética das escolas médicas do Estado de São Paulo” e teve como orientador o Prof. Dr. Magnus Régios Dias da Silva e coorientador o Prof. Dr. Aluísio Marçal de Barros Seródio; e “O banheiro público como dispositivo de gênero” de autoria de Thales de Almeida Nogueira Cervi, Richard Miskolci, Magnus R. Dias-da-Silva, e Pedro Paulo Gomes Pereira.

O Núcleo TransUnifesp também foi cenário de dissertações de mestrado. Thales de Almeida Nogueira Cervi, defendeu seu mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Unifesp, Bolsista CAPES, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Paulo Gomes Pereira e coorientação da Profª. Drª. Cristiane Gonçalves da Silva, com o tema: “Itinerários trans nos serviços de saúde: acompanhando o Ambulatório de Atenção Integral a Pessoas Trans da Unifesp”; Lúcio Costa Girotto também pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Unifesp, Bolsista CAPES, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Paulo Gomes Pereira e coorientação da Profª. Drª. Cristiane Gonçalves da Silva, com o tema: “Produção de clínicas e cuidados em um ambulatório de atenção integral a pessoas trans”; e Nayla Rodrigues Pereira defendeu seu mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Escola Paulista de Enfermagem, Unifesp, bolsista CAPES, sob orientação da Profª. Drª. Ana Lucia de Moraes Horta, com o tema: “Necessidades de saúde de pessoas transgênero, travestis e não-binárias: possibilidades e desafios para a enfermagem”.

Há dois estudos de doutorado em andamento: Lúcio Girotto desenvolve pesquisa de doutorado sobre o mesmo tema de seu mestrado, agora como bolsista CNPq. Além disso, um outro pesquisador, Sofi Gonçalves Repolês, desenvolve sua tese de doutorado com o tema: “Transmasculinidades e envelhecimento: perspectivas sobre cuidado e saúde”, ambos pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

Extensão

Na extensão, o NTU desenvolve o Programa MULTTISABERES que visa à troca de conhecimentos científicos e saberes populares com ênfase na educação, pesquisa-ação e profissionalização da comunidade externa e interna da Unifesp. Dentre os projetos vinculados a esse programa, foram criados três outros entre 2017-2018. São eles:

O Projeto TransUnifesp Extramuros que visa incentivar as ações de extensão protagonizados pelos alunos e profissionais de saúde - de dentro e de fora da universidade - a integrarem por meio de reuniões mensais, fóruns, seminários, congressos e semana da diversidade, abertos para toda a comunidade em geral, notadamente a população de travestis, mulheres transexuais, homens trans, de gênero não binário e pessoas Intersexo, a dialogarem de forma efetiva e com pautas propositivas com a comunidade acadêmica, gestores e prestadores de serviço público, para enfrentamento da transfobia.

Já o Projeto TransAmigo desenvolve iniciativas parceiras entre a universidade e a comunidade Trans (individualmente ou com movimentos sociais organizados) para promoção de saúde desta população, mais especificamente quanto a qualificação do acolhimento mais humanístico no ambulatório.

Numa vertente mais cultural e de clínica ampliada, o Projeto Babadeires desafia a vivência do conceito de integralidade em saúde para comunidade trans explorando intersecções de espaços culturais da cidade na produção de subjetividades e legitimidade social, ou seja, entendendo a saúde em suas diversas intersecções para além da clínica ambulatorial. Pretende-se com essas ações de extensão explorar atividades artístico-culturais, como festas de rua, viradas, exposições, shows e saraus pela cidade, ocasiões em que se promovem discussões e oficinas artísticas junto com as pessoas trans. 

Outras atividades estão sendo planejadas em todos os campi da Unifesp com apoio do NTU, especialmente nas áreas da Educação Inclusiva, Cidadania LGBTQIA+, Direitos Humanos, Populações de Minorias, Periféricas, entre outras.