Depoimento da autora inscrita: Flora Matheusa dos Santos Souza/Flora Matheusa 
 

Depoimento da autora inscrita: Flora Matheusa dos Santos Souza/Flora Matheusa


Vídeo Finalista do Concurso Cultural - Unifesp Mostra Sua Arte – UMA 2020 – Arte em Tempos de Distanciamento


 

Autora inscrita: Flora Matheusa dos Santos Souza/Flora Matheusa

Título: O dia de hoje se confunde com o de ontem, mas o amanhã será diferente?
Categoria: Dança e performance - Unifesp Mostra sua Arte - UMA 2020

Descrição: 

A produção é um experimento performático durante o período de isolamento social, na varanda de casa, no qual a partir da vivência de um preto escravizado que cultuava seu sagrado através de uma panela durante a escravidão. O registro deste homem está presente em algumas produções historiográficas (como o livro "Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira” de Vagner Gonçalves da Silva e "O diabo na terra de santa cruz" de Laura Mello e Souza), e revisito essa memória recriando a adoração hoje com elementos da umbanda. Umbanda, puro fruto da diáspora, que unitiza as agências de negros e indígenas para manter suas religiosidades apesar da imposição católica e cristã.  Nesta obra, Idealizo as permanências entre o passado e presente, seja no culto as matrizes religiosas africanas, no preconceito racial e religioso, e nas limitações que as pessoas pretas vivem desde os tempos remotos, num hoje que parece o ontem, em que estamos mais vulneráveis a morte, a demonização e a fragilidade social. Um hoje marcado pela morte desenfreada de negras e negros, sejam por epidemias, pela violência que cerca seus corpos e a ausência de direitos civis e humanos. Sempre à margem, mobilizando forças daqui e do além para viver, existir, sobreviver. O sagrado, até hoje, é o meio em que encontram fé, forjam suas curas e saram suas dores.  Uma memória que parece se repetir, nas limitações sociais, no risco de vida e na desumanização que vivemos. Uma memória que se reinventa no hoje em um corpo trans que reivindica sua ancestralidade. Sendo assim, encenar essa adoração, é também racionalizar um processo de desamparo social, a falta de saúde e de estrutura sanitária para tratar doentes, especialmente pobres, pretos e trans, que é continuidade de um ontem infindo. Faz-nos pensar se o amanhã vai ser diferente, se o nosso hoje continua perpassado por mortes, dores, sequestros, genocídios, perseguições, apagamentos e abandonos. Se o nosso amanhã vai ser diferente se continuamos vulneráveis ao extermínio. É na religião e na nossa fé que construímos nossas possibilidades de ser e estar no mundo, nossos remédios, nossa cura, e fugimos da solidão.